Carta Pastoral - Ecclesia Pax

 

DOM ANTÔNIO MATHEUS
POR MERCÊ DE DEUS E DA SANTA SÉ APOSTÓLICA
TITULI DI AGUNTO
PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA EDUCAÇÃO CATÓLICA
PREFEITO DA CONGREGAÇÃO PARA OS BISPOS
BISPO DIOCESANO DE LEIRIA-FÁTIMA 

A todos os que lerem esta mensagem 
paz e bem

A paz é dom de Deus e é também responsabilidade humana. Ela seja estimulada por todas as pessoas de boa vontade em vista de sua construção real. É preciso rezar para que o dom divino da paz se concretize em nosso mundo a fim de que todas as pessoas se amem de verdade. Nós presenciamos algumas guerras pelo mundo afora e também em nossa nação de modo que estas sejam superadas pelo diálogo, pela reconciliação entre as pessoas e entre os povos.  

As autoridades cuidem nos seus discursos a fim de não inflamar mais ainda o tecido social, tão ferido, sobretudo para com os mais pobres. É fundamental construir laços de paz entre as partes interessadas, pelo diálogo, pela aceitação das diferenças partidárias, ideológicas, e buscar o amor de Deus, ao próximo como a si mesmo. A democracia é ação a ser implantada sempre mais na sociedade e no mundo de hoje. Veremos a seguir a forma como os padres da Igreja, os primeiros teólogos cristãos construíram laços de paz entre os diferentes povos onde o cristianismo foi divulgado.  

A paz dá-se na concórdia. 

Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V, afirmou que a paz é um grande dom de Deus dado na concórdia entre as partes. A paz do corpo é dada pela ordem nas suas partes. A paz da alma racional é o consenso ordenado do conhecimento e da ação. A paz entre o corpo e a alma é a vida ordenada e bem estar físico. A paz entre os seres humanos é a concórdia ordenada. A paz entre o ser humano mortal e Deus é a obediência ordenada na fé sob a lei eterna do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A paz de todas as coisas é a tranqüilidade da ordem. Deus criou tudo em paz de modo que os seres humanos são chamados a construir relações de paz.  

Amor para os seres humanos. 

Santo Agostinho ainda disse que é preciso ter amor para com todos os seres humanos, pela diversidade de opiniões e de ações. Isto deve ser sempre mais estimulado na convivência a fim de estabelecer a paz entre todas as pessoas. A distinção entre bons e maus não é uma ação segura para ninguém. A separação cabe Àquele que não erra porque não colocará o mau à direita nem o bom à esquerda. Nesta vida é difícil o conhecimento próprio, quanto mais será difícil proferir ao outro uma sentença improvisada. Desta forma o conhecimento de alguma pessoa que hoje está na maldade, talvez será mudado amanhã e o que hoje é odiado de uma forma intensa, será nosso irmão e irmã, logo mais. É preciso odiar com segurança a malicia dos maus e amar a criatura de tal sorte que amemos o que Deus criou nas pessoas. Todas as pessoas são chamadas a amar o que Deus criou e odiar o que fez ser humano, o pecado, para assim ter paz necessária para todos 

O amor cristão é dado para todas as pessoas. 

São Fulgêncio de Ruspe, atual Tunísia, bispo nos séculos V e VI afirmou que os cristãos eram chamados a viver a palavra de Cristo do amor para com todos os seres humanos, conhecidos e desconhecidos, bons e maus, amigos e inimigos. A caridade cristã é benfazeja, não é invejosa, ambiciosa, não busca o seu próprio interesse, não goza da injustiça, mas se alegra na verdade; nela tudo crê, espera, suporta o bem que jamais passará (1 Cor 13, 4). A caridade abraça os amigos estendendo-se também aos inimigos. O próprio Senhor disse para amar os inimigos, fazer o bem para aqueles que odeiam a vida da gente e pregar por aqueles que perseguem os fiéis e caluniam a vida dos seguidores de Cristo (Mt 5,44). O Senhor ordena para os seus discípulos de estender o amor até aos inimigos, de dilatar a bondade de coração cristã até aos perseguidores. Quem amará os inimigos e beneficiará a quem os odeia, será filho de Deus Pai que está nos céus (Mt 5,45).

O desejo da paz. 

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V, afirmou o desejo da paz que está no coração de todas as pessoas e dos povos. Cada fiel possui um anjo, como disse Jacó que educa a pessoa e defende-a desde a juventude (Gn 48,16). Por isso os fiéis suplicam em alta voz ao anjo da paz e em todo o lugar pedindo ao Senhor a paz porque nada a iguala. Nas Igrejas, nas orações, nas saudações invoca-se a paz, muitas vezes. Ela se constituiu como a mãe dos bens divinos e o fundamento da alegria. Onde a paz não reina, tudo é vão. É a paz que predispõe o caminho do amor. Quem preside a Igreja não diz somente paz às pessoas mas também paz a todos. A paz é um bem muito grande que são chamados filhos de Deus aqueles que a operam e a difundem (Mt 5,9). O Filho de Deis veio neste mundo para estabelecer, na palavra do apóstolo Paulo, a paz, para que ela reine seja na terra, seja no céu (Cl 1,20).  

O desejo da paz. 

São Jerônimo, presbítero dos séculos IV e V, disse que a paz se constrói pelo desejo e pelos fatos entre as pessoas e os povos. Só o desejo de realizá-la terá a sua recompensa por parte de Deus, mas o fundamental é poder dar-se a reconciliação, entre as partes conflituosas. O Apóstolo São Paulo já dizia da importância de as pessoas manterem a paz com todos os seres humanos (Rm 12,18). As pessoas imploram a implantação da paz, aquela que vem de Cristo, a paz autêntica, sem resíduos de hostilidade, uma paz que não esconde em si a guerra, mas aquela paz que une a todos em Cristo na amizade e no amor 

A paz é feita pela caridade. 

São Jerônimo ainda dizia que a paz é feita pela caridade. O fato é que onde existe o ódio tem hostilidade, não tem paz. Mas onde existe a caridade, lá existe a paz e vale o contrário, onde a paz é percebida, a caridade reina nas pessoas. Quem não anda em comunhão, dilacera-se da vida da comunidade eclesial, não se sentindo feliz e contente. A paz é dada pela caridade, de quem de fato a procura em sua vida e na vida das pessoas. Jesus disse que a oferta verdadeira é aquela da reconciliação com o próximo, porque caso contrário a pessoa deixará sobre o altar a sua oferta para ir se reconciliar com o outro e depois sim poderá oferecer a sua oferta a Deus (Mt 5,23s), de modo que a pessoa estará em paz por uma ação caritativa. 

A paz é um dom de Deus para ser construído nas relações humanas. Ela é a vivência do amor. Os padres da Igreja eram bem objetivos em perceber a importância da paz nas relações familiares, comunitárias e sociais. A paz verdadeira era aquela que vinha de Cristo Jesus na qual consistia na construção de harmonias, de vivências de perdão e do amor ao próximo, do amor a Deus como a si mesmo. O povo de Deus é chamado a viver em paz para testemunhar o amor misericordioso do Senhor para todas as pessoas. Nós rezemos para que paz reine na família, na comunidade e na sociedade. 

+Antônio Matheus



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